Niilismo e Desencanto

Niilismo e Desencanto na Sociedade Contemporânea

O mundo contemporâneo sofre da ‘Carência de Significados’. Um dos fatores que concorrem para o estabelecimento e a permanência desta realidade é o desencanto pelo mundo que, por sua vez, é gerado pela impotência em concretizar desejos pessoais, projetos e sonhos particulares. É um estado (modo de ser) de desistência, isto é, uma vez constatada a impotência pessoal, “entrega-se o jogo”, desarma-se e desiste. Há pessoas desistindo de si mesmas. A reação a tudo isto se apresenta na busca excessiva por ‘prazeres’ efêmeros, pelo consumo desmedido e pelo descompromisso generalizado. Em tal realidade, o niilismo, enquanto descrença absoluta, se exprime explicitamente nos comportamentos mais simplórios.

A maioria das pessoas no estágio atual, tende para o depressivo, sofrendo do excesso de tristeza, de desespero e de desestímulo. O contrário do desespero não é a esperança, é, antes sim, a certeza. Estamos vivendo um tempo de incertezas, carecemos de garantias e não as possuímos de absolutamente nada. A esperança é apenas uma ingênua distração, nada se constrói sobre esperanças, todavia, sobre (em cima de.) certezas, se constrói a existência. A angústia – ansiedade e aflição – e o sofrimento deram-se as mãos e tornaram-se o ‘pano de fundo’ da vida atual. Sofre-se tanto porque é demasiado exigido que as situações de mal-estar sejam suportadas. O desconsolo, consciente ou inconsciente, paira sobre a maioria.

Há quem afirme: “o que falta é gana, ímpeto e garra para lutar”. Não há carência de nada disto, penso eu, todos as possuem e sabem utilizá-los no momento oportuno. Falta, isto sim, ‘alguma coisa’ pela qual valha à pena lutar, ‘algo’ que justifique a entrega da própria vida, se necessário for. Para aqueles que replicam, argumentando que há inúmeras causas que justificam o empenho incansável de tantas pessoas, treplico-lhes, portanto, afirmando que a ausência de sentido em fazer isto é exatamente o que se possui no momento. O comportamento niilista é caracterizado justamente pela postura de descrença na existência de algum valor absoluto, de alguma “coisa” que justifique e que mereça ser defendido pelo ser humano, porque, para o niilista, tudo é relativo, nada é absoluto.

Os fatores históricos e culturais que estão implicados no desenvolvimento da postura niilista são muitos e diversificados e agiram continuamente de modo dinâmico e constante na sociedade moderna e contemporânea. O que se iniciou na Renascença, tornou-se multifacetado e teve o seu apogeu no Iluminismo, contudo, fatos históricos contrários e destoantes destes princípios, sobretudo, a Segunda Guerra Mundial (1945), foram responsáveis pelo início da perda de sentido – propósito –, pela incapacidade de significação – expressão e representação –, pela inabilidade para criar símbolos – representar ou substituir algo abstrato – e pela indiferença para ler, isto é, decifrar e interpretar o sentido, e legitimar os que, por ventura, se apresentassem. Tal postura adquiriu seu auge no niilismo atual.

Tal postura não é a expressão irresponsável de quem “dar de ombros” para tudo e para todos. Em seu bojo, está o desejo humano de não reduzir suas existências a tais características comportamentais, sem, no entanto, serem totalmente cônscios de como sair e fugir à influência de tal contexto. Busca-se um novo tempo, apesar dos perigos, não obstante os castigos. Nos olhos que se enxergam uns aos outros, descortina-se o sonho de outro modo de ser. No horizonte de percepção da maioria, se encontra tal desejo. Para tanto, faz-se necessário alterar o olhar, renová-lo, capacitá-lo para enxergar tanto o óbvio quanto o absurdamente surpreendente.

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