Viver é Transcender

NOTAS SOBRE A DIMENSÃO ESTÉTICA DA VIDA

No mês de junho, publiquei um artigo no Blog da TV itapoan online com o título “NOTAS SOBRE ÉTICA E INDIFERENÇA”, no qual estabelecia uma relação entre a conduta egocêntrica, característica dos comportamentos atuais, e a indiferença e suas conseqüe
ntes implicações para a Ética. Uma das conseqüências nefastas deste comportamento é a incapacidade, fartamente detectada atualmente, de sensibilizar-se diante de situações de desrespeito à pessoa humana, ferida em seus direitos. No artigo citado, oferecia como exemplo o fato das pessoas não mais enxergarem, isto é, não mais exercerem o sentido da vista “sobre”, o mendigo na rua, os meninos (as) drogados (as) e futuros meliantes ou diante da morte de vários jovens nas periferias. Vide: http://www.itapoanonline.com/main/direito/blog/

Hoje, pretendo construir Notas sobre a Dimensão Estética da Vida.

È largamente difundida a ideia de que todas as pessoas necessitam ser educadas para serem capazes de conviver harmoniosamente na sociedade. Uma vez educado, este individuo estaria habilitado para conviver (viver com) e relacionar-se na sociedade da qual faz parte, sem causar dano a nenhum dos outros sujeitos sociais e nem a si mesmo. A dimensão estética da vida está orbitando em torno desta ideia – ainda que possua independência conceitual.

Ou seja, o desenvolvimento da dimensão estética e sua consciência e maturação se dá num individuo esclarecido, culturalmente educado, capaz de (1º) espantar-se (assombrar-se, pasmar-se; maravilhar-se, surpreender-se;...) perante espetáculos, quer da natureza, quer artísticos, e ir além, dialogando com eles, seja dilatando a compreensão dos mesmos, possibilitando novas abordagens, seja utilizando-os como conteúdos para reflexão própria acerca da vida humana e de suas relações com o cosmos. Este indivíduo é capaz igualmente de (2º) indignar-se (consternar-se, repulsar e criticar) ao presenciar agressões contra a pessoa humana e a natureza em geral (senso ecológico).Contudo, o indivíduo carente educacionalmente, possui juízos de beleza e possui igualmente a capacidade de concordar com outrem sobre o que seja belo, ainda que seu conceito de beleza careça de avaliação artística. Contudo, este sujeito não necessariamente é capaz de realizar um salto qualitativo, a partir de um espetáculo ou de uma obra de arte, produzindo uma reflexão a partir da coisa, da ação, do comportamento belos.

A dimensão estética da vida abarca a capacidade de preservar o que lhe circunda, sejam criações humanas, sejam naturais, colaborando para sua valorização, sua transformação e conservação. A dimensão estética da vida compreende igualmente a capacidade de desenvolver um comportamento social harmonioso, isto é, competência para produzir beleza na sua ação em sociedade, algo confluente com seu caráter e sua concepção estética. Um garoto (a) que traduz sua visão de mundo ou apresenta sua hermenêutica num grafite de rua produz arte, consequentemente, portanto, é capaz de exprimir a própria visão da dimensão estética da vida. Este possibilita uma vida com mais cor, forma e reflexão. Arte é mais que técnica, é igualmente reflexão.

Museus de artes, livros, teatro, cinema, música, pinturas, fotografias, óperas, espetáculos de dança, apresentações de orquestras, dentre tantas outras, são instrumentos que potencializam a construção e o desenvolvimento da própria dimensão estética e seu amadurecimento. Até ser capaz de ouvir a quinta sinfonia de Beethoven com ouvidos de um maestro e utilizá-la como conteúdo para reflexão, enxergando na música, ou através dela, o equilíbrio, a força, a doce aurora de uma manhã de primavera, o dinamismo constante da natureza, o frulhar dos pássaros, enfim, o pulsar da vida com toda a sua potência. Ou seja, possuir a dimensão estética da vida é ser capaz de ter a vida diante dos olhos e vê-la em toda sua beleza. É ter olhos capazes de enxergar e produzir belezas e mentes capazes de transcendê-las.

Fazer escolhas, construir uma face para o próprio comportamento, relacionar-se com o conhecimento, produzindo-o, internalizando e externalizando-o. Ser apto a respeitar, a valorizar, a viver eticamente e a transcender o mero e efêmero instante. Alcançar cumes metafísicos sempre maiores para ser capaz de contemplar horizontes novos, realidades mais significativas e transformar a própria existência.

Moldar o olhar para captar as infinitas possibilidades daquilo que se apresenta, se manifesta para nós. Ver todas as coisas com olhar transcendente! Quando o homem cria esteticamente, sua obra e a Natureza harmonizam-se, se complementam, sem agredirem-se, nem se sobreporem, porque, quando o homem cria, é a própria Natureza quem cria.


*Obras de Luigi Mussini (clássico) e Ross Watson (contemporâneo).

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