Minha cara Valdíria, saudações filosóficas.

Pegadas no Virtual


Cara Valdíria


* Caríssmos, desculpas aos que estavam acompanhando as postagens sobre o Alberto Camus e o Mito de Sísifo, pois me utilizarei deste "espaço" para postar um aceno a uma amiga que partilha comigo a arte de postar em blogs. Todavia, as postagens sobre o Camus continuarão normalmente. Abraço a todos!


Li sua mensagem inteira. Confesso que fiquei surpreso ao ler em sua mensagem o comentário direcionado a mim, descrevendo uma das situações mais incômodas de quem possui um blog: a carência de comentários, debates, sugestões, problematizações, reflexões, de quem nos visita.


No conteúdo da sua mensagem, penso eu, já estão, mesmo que implicitamente, as respostas de que necessita para as questões que você aborda. Inicialmente, parabenizo-te por teres saído “da internet para entrar na vida”. Este movimento de saída e de retorno deve ser constante, pois a “vida” virtual só terá sentido se for mesclada, permeada, preenchida da vida real, da vida humana, das pessoas humanas. Virtual por virtual, ficamos com nossas imaginações, fantasias, quimeras, que, em sua grande maioria, são muito mais vivas que os conteúdos virtuais, disponibilizados pela internet.


Afinal, virtual lembra simulacro e, no virtual, cabe distancia quando é puro simulacro. Deste fato não devemos esquecer jamais. Quando você se utiliza do seu blog para divulgar espetáculos, trabalhos artísticos, ações em prol de quem, de fato, necessita delas, você, mesmo inconscientemente, está preenchendo o espaço virtual que é seu blog com a vida real. Você está dando sentido ao seu blog, está personalizando-o com sua própria persona.


Na mensagem, você afirma que deseja (ou, pelo menos, como seria bom se...) que “seus pensamentos encontrassem ressonância em alguém”. Penso que, se você mesma encontra ressonância naquilo que torna público através do seu blog, você é sua primeira admiradora e, nisso, está já uma utilidade para seu blog.


José Saramago transformou em livro as postagens do seu blog, porque julgava que, em cada postagem feita, ele estava inteiro nela e, com isso, o conteúdo escrito era profundo. “Nasceu”, portanto, um livro com conteúdo definitivamente profundo. Não sei se transformar suas postagens em livro é o objetivo que você tem para suas postagens, no entanto, se você tem claro na mente e no intelecto qual o objetivo do seu blog, de fato, outros descobrirão este sentido também e, certamente, este é um caminho, uma via de possibilidade para seus pensamentos encontrarem ressonância em alguém.


Eu, com o meu blog, sinto a mesma “ausência” das pessoas. No entanto, não me incomodo, pois percebo que, ainda que não escrevam comentários, elas deixam pegadas que atestam que elas passaram por lá (por aqui). Por que, então, não comentam? Porque, talvez, desejem deixar apenas pegadas mesmo, como sendo a única coisa que elas têm para dar de si naquele momento. Acolho suas pegadas com muito carinho e construo a certeza de que elas voltarão e, se voltarão, é porque alguma coisa que eu disse em escrita encontrou ressonância no seu ser. Para mim, basta que deixem pegadas e que seus intelectos sejam despertados para alguma coisa e que, com isso, percebam mais do que percebiam antes de me ler no blog.


As pegadas deixadas sinalizam que devo continuar escrevendo, ainda que seja para “ninguém” especificamente, especialmente. Escrever como um exercício intelectual, escrever como um sinal de que no virtual deve haver mais vida real, escrever, em fim, para que aqueles que deixam pegadas encontrem uma “sombra” aonde descansar por alguns instantes, antes de continuarem a longa jornada da vida real.


José Adriano 


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