Ensino da Filosofia (01)

Panorama: apenas um olhar 

Há algum tempo, o Brasil determinou o ensino da Filosofia e da Sociologia no ensino médio. Daí advém diversas problemáticas que não se encerram apenas na ausência de profissionais licenciados nas áreas específicas. Há que se perguntar e responder constantemente sobre o que e como ensinar e chegará o tempo em que estas não mais serão as perguntas e as respostas mais importantes, mas, antes sim, outras tantas mais profundas e pertinentes desenvolvidas, talvez, pela própria Filosofia no ensino médio. Questões como estas são mais urgentes do que as que orbitam em torno do questionamento que procura descobrir se o professor de filosofia é filósofo também.

Ora, que a Filosofia no ensino médio se justifica por si só é um consenso, todavia, este fato não soluciona as demais problemáticas. O ensino da Filosofia para adolescentes “justifica-se em decorrência da própria condição da existência humana, condição que se constitui através das suas mediações históricas, através do trabalho, através da participação social, através do desenvolvimento cultural das pessoas” (Severino 2009). Não há como dissociar estas realidades que constituem a existência humana da educação e isto tanto mais se configura em fato no caso do ensino da Filosofia.

Na contramão desta proposta do MEC geralmente está a da atitude e a postura dos estudantes do ensino médio. Refiro-me ao fato de manifestarem com certa freqüente, se não em todo o tempo, uma postura de descrença e descompromisso com sua formação. 

Uma despreocupação que, apesar de ser já um sintoma, não se justifica num tempo profundamente marcado pela grande circulação de informações e pelo imenso volume de conhecimentos que se produz. Este tempo transmuta-se constantemente. Isto não é uma crítica, é uma constatação. Como ensinar Filosofia sem uma boa dose de receptividade de alunado?

Com o potencial que os estudantes possuem nesta fase da vida, se desenvolvessem uma postura diferente com a Filosofia, certamente se beneficiariam por toda a vida. O maior desafio dos professores de filosofia do ensino médio é ajudá-los a desenvolver a autonomia o gosto pelo conhecimento. E, quanto à Filosofia, desenvolver o “amor pelo saber”. Há que se gostar de ser amigo do saber.

Critico, contudo, o discurso que julga ser a Filosofia capaz de solucionar os problemas da sociedade brasileira, viciada desde sua fundação. Há que se pedir da Filosofia aquilo que ela pode, e o que ela pode é contribuir. “Não cabe a uma única disciplina o encargo da formação integral dos educandos” (Severino 2009).

Grosso modo, o que se espera da Filosofia no ensino médio é que ela contribua para que os estudantes desenvolvam a capacidade de apreender e de vivenciar a própria condição humana (Severino 2009), sendo consciente da magnitude e da profundidade que caracteriza a condição do seu ser e a essência da sua natureza.

O indivíduo em formação pode alcançar a capacidade de olhar-se como indivíduo e perceber-se integrado ao macro conjunto que constitui a totalidade da natureza humana e, por outro lado, olhar a natureza humana e enxergar-se como parte dela. 

Daí, pode-se desenvolver a percepção sobre o todo social e histórico da humanidade a partir da consciência de que tudo o que diz respeito ao Homem lhe interessa, lhe toca, lhe diz respeito e, por outro, ser cônscio de que tudo o que lhe constitui interessa a todos os homens em geral. É macro o desafio, mas, em se tratando da Filosofia, não poderia ser diferente.

Obra citada: A Filosofia e seu ensino. Loyola. 
Obra: jan davidsz de heem.

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