O Que Há de Novo no Ser?


Encarnar-se em si mesmo.

O tempo lhe é familiar? A sua razão e consciência é latente o suficiente para chamar sua atenção para o fato de que você está refletindo acerca de algo?
Como o homem lida com seu ser? O que há de novo n’ele, a cada dia? Acaso não somos dotados da capacidade de esquadrinhar minuciosamente inúmeras coisas? 

Rotina, mal-estar, frustração, decepção, arrependimento, culpa, vício, excessos,... São tantas as coisas com as quais nos acostumaram, afirmando não ser nenhuma delas para nós humanos. O que é para nós, afinal? O céu habitado pela divindade?

Todos estes elementos que listei, e tantos outros dos quais não me lembro no momento, são tão humanos quanto a sua pele e os meus dedos que digitam estas letras, neste momento. Com a diferença de que você sem a sua pele e eu sem os meus dedos continuamos sendo humanos, isto é, pessoas, porque de nós nada nem ninguém pode seqüestrar a persona, a essência, aquilo de que sua e a minha consciência se constitui no cotidiano da nossa existência e que configura a sua e a minha idiossincrasia.  

Fomos acostumados com o virtual, antes mesmo que nos déssemos por conta. E, a partir de então, julgamos a vida, como de fato ela é, um fardo insuportável de ser vivida. Porque estamos com os olhos e o objetivo em outro lugar, num além que de tanto sê-lo sequer se configura em realidade. Por que nos tiraram do real, daquilo que em nós era visceral, encarnado na essência do que nos constitui? Aprendemos enfim a ‘não ser’ o que de fato somos; nos virtualizaram e aprendemos a nos virtualizar, reproduzindo-os; renegamo-nos interna e externamente e passamos a desejar sempre mais a ‘não ser’.

Ao renegarmo-nos como somos nos perdemos naquilo que é um sonho ideal, mas, no entanto, irreal e impossível de sê-lo. Aprendemos, porque nos ensinaram, a extrair do corpo as respostas de que a alma necessitava para justificar sua crença e passamos a tremer, a balbuciar palavras incompreensíveis, a delirar e a visualizar o inominável. Não seria melhor ter aprendido sobre as energias que circundam e preenchem nosso ser e que, após a dissipação da vida existente neste ser, se reencontra com o macro, com o Cosmo universal?

Não seria melhor conservar a consciência no que é simples, mas, no entanto, verossímil? Vários outros seres e tantos outros modos de uma possível existência fora da terra e longe do “mundo” são afirmados, anunciados, defendidos. E estes discursos vazios em si mesmos preenchem e alimentam a imaginação da vida numa eternidade. O desejo humano de ser eterno estar entranhado no seu ser. Esqueceu-se, no entanto, que este desejo já é uma realidade: na humanidade, na totalidade da natureza humana. 

Cada indivíduo deseja a eternidade e ele a terá na medida em que participa da natureza humana. A Humanidade não se acabará sem que, antes, acabe tudo o mais que circunda e configura o universo. E, enquanto existir um humano de pé, estará viva e latente a totalidade da natureza humana.

Isto nos ensinaram a negar e, em seu lugar, nos ensinaram a desejar individualmente a eternidade. Cada ato individual de um homem diz respeito à totalidade da humanidade, e cada macro episódio da história humana, seja justo ou injusto, benéfico ou maléfico, diz respeito a cada homem em particular.

O universo é seu na medida em que você encarna em si a consciência de que você é um fenômeno da mesma forma que as estrelas, que as florestas, que os rios e os animais. Sua consciência e sua razão atestam que a Natureza pensa e ver-se a si mesma em você.

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