A LENTE DE PLATÃO (I)


O Ocidente possui suas raízes históricas e culturais na Grécia Clássica. Para compreender-se a si mesma, a cultura ocidental voltou seu olhar diversas vezes para a Grécia Clássica, a exemplo da Renascença. O filósofo Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) é considerado crítico mais ácido e radical da moral ocidental e do cristianismo, já que, para Nietzsche, um deriva do outro. O filósofo estende sua crítica também à política e á verdade, no que se refere ao modo como os filósofos ocidentais a buscaram ao longo da história da filosofia. 

O que justifica tamanha insatisfação com a moral ocidental? O filósofo não buscava a construção de um “‘sistema filosófico’, o que pretendia era “a experiência estética de vida”, afirmada como superior ao pensamento conceitual” (REZENDE, 2010, p. 219). Ora, além do ocidente valorizar sobremaneira o pensamento racional, conceitual, para o filósofo Nietzsche, Platão é considerado um dos responsáveis pela supervalorização do pensamento teórico. Platão se torna, assim, uma espécie de “lente” a partir da qual o ocidente se percebe e percebe o mundo e o Cristianismo é nada mais que “um platonismo para o povo”.

Nietzsche conhece profundamente os gregos arcaicos, a exemplo de Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo e os Pré Socráticos em geral. Este contato lhe ofereceu a oportunidade de descobrir uma experiência estética diametralmente oposta àquela com a qual estava acostumado a vivenciar no ocidente. O pensador percebe que há outro modo estético de conceber e de vivenciar a existência, modo este anterior ao modo ocidental de pensar que nasce com Sócrates e Platão (século V a. C). 

O modo de pensamento pré-socrático é caracterizado pela arte como mediação. Sem uma idéia clara de verdade, enquanto idéia construída. O pensamento, neste período, era profundamente fundado no devir, isto é, a vida tomada a partir do seu processo de transformação constante. O pensamento dos pré-socráticos gira em torno da concepção de que tudo muda, de que tudo sofre um fluxo contínuo (Heráclito).

O pensamento socrático-platônico extermina a pluralidade, a confluência dinâmica e constante do devir em todas as coisas. O que se ver, após isto, é um pensamento binário: “isto OU aquilo” em detrimento do “Isto E aquilo”. A maior prova do pensamento marcado pela Pluralidade e pelo Devir é apresentada pelos Mitos. Estes exprimem-se, sobretudo, pela inexistência de um princípio único e originário do mundo. 

Nietzsche considera os pré-socráticos os “verdadeiros filósofos” porque eram os únicos a conseguir conjugar arte, pensamento e saber. Entenda “conjugar” no sentido de conceber a arte, o pensamento e o saber segundo as leis que lhe são próprias, isto é, as leis que regem tais coisas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Niilismo como refúgio e criação.

Quem Conhece Mafalda?

Notas sobre Preconceito Religioso e Sociedade