Nietzsche: Vontade de Potência (I)

Vontade, Potência e Ressentimento

 
Um dos conceitos da filosofia de Nietzsche é o de “Vontade de Potência”. Este conceito faz parte da análise e crítica da racionalidade e da ciência ocidentais, ou seja, funciona como princípio conceitual para a análise do problema do conhecimento (ciência). 


O filósofo sustenta, portanto, que a racionalidade científica moderna se configura em manifestação “negativa” da vontade potência ou de dominar. Cumpre lembrar que, para Nietzsche, esta “Vontade de Potência” é própria do homem, lhe é essencial, “porque todo instinto é ávido de domínio” ( Para Além do Bem e do Mal).

O desdobramento da vontade de potência se dá por meio dos instintos (forças) que, por sua vez, são responsáveis por criar métodos científicos, teorias do conhecimento e crenças no sujeito, naquilo que se entende por unidade e na verdade. Todavia, a crítica do filósofo afirma que tais nada mais são que mecanismos ilusórios que não servem para potencializar o ato de conhecer, mas servem unicamente para adquirir mais poder sobre as coisas, concedendo-lhes um sentido estritamente lógico.

Na esfera do ser individual, a vontade de potência é responsável pelo desencadeamento do espírito de vingança, de dominação e, claro, do espírito de Ressentimento. A atitude reativa deste indivíduo, dominado pelo espírito da vingança e do Ressentimento, é tentar “corrigir” a realidade que ele percebe. Este indivíduo por finalidade a tornar a realidade continuamente menos contraditória através da determinação da Razão. 

No pensamento de Nietzsche, percebe-se que o filósofo oferece, como alternativa, outra percepção da realidade e outro modo de comportar-se e de relacionar-se com a realidade. Para o pensador, “não há sujeito, nem unidade, mas multiplicidade de forças e acaso” (REZENDE).

“Não é, pois, de admirar que a sede de vingança e o ódio utilizassem essa crença para sustentar que o forte pode ser fraco, que a ave de rapina pode ser cordeiro: desse modo poderemos pedir contas à ave de rapina por ser ave de rapina... Quando os oprimidos, os servos, cheios de vingança e de impotência, se põem a dizer: “Sejamos o contrário dos maus, sejamos bons. O bom é o que não injuria ninguém, nem ofende, nem ataca, nem usa de represália, senão que deixa a Deus o cuidado da vingança e vive oculto como nós e evita a tentação e espera pouco da vida como nós os fracos, não podemos sair de fracos, não façamos, pois, nada que não possamos fazer”. Essa amarga prudência, que até o inseto possui (o qual, em caso de grande perigo, se finge de morto), tomou o pomposo título de virtude, como se a fraqueza do fraco – isto –e, a sua essência, a sua atividade, toda única, inevitável é  indelével – fosse um ato livre e voluntário, meritório. Essa classe de homens na realidade necessita crer num “sujeito” neutro dotado de livre-arbítrio; é um instinto de conservação pessoal, de afirmação de si mesmo, por que toda a mentira tende a se justificar. O sujeito (a alma) foi até aqui o artigo de fé mais inquebrantável, porque permitia à grande maioria dos mortais, aos fracos e oprimidos, esta sublime ilusão de ter a fraqueza por liberdade, a necessidade por mérito”. (Nietzsche – A Genealogia da Moral)

To be Continued!!

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