Pensando a sociedade

Notas sobre Sociedade

As sociedades, conjuntamente com os sistemas políticos e as formas de governo, foram igualmente pensadas. Inicialmente, pelos filósofos políticos, como Montesquieu, John Locke, Thomas Hobbes, Espinosa, Maquiavel, Voltaire e Jean-Jacques Rousseau, para quem a sociedade corrompe o indivíduo, julgando que este, em estado natural, é essencialmente bom. Segundo Rousseau, o principio de deformação ético-moral encontrava-se na sociedade, defendida na teoria do bom selvagem. Pensar a sociedade foi possível porque o indivíduo necessitava de liberdade e exprimia isto através das revoluções. Pode-se considerar o iluminismo (luzes nas trevas) como a primeira grande revolução em prol da transformação social em benefício do sujeito, modificando profundamente a sociedade, centralizando nela o indivíduo, ou seja, antropocentrismo em detrimento do teocentrismo anterior.

Com o Iluminismo (século XVII), desejava-se que o homem saísse da menoridade (Kant), adquirisse a liberdade de pensamento e passasse a pensar, a agir e a transformar o ambiente em que vivia a partir de si mesmo, da sua razão individual. Com o iluminismo, são esboçadas as primeiras ideias que norteiam o presente, corrobora isto a afirmação de que “o iluminismo é o ponto de partida para compreender a sociedade moderna” (PETRINI, 2003, p. 25). No bojo da reflexão acerca das transformações sociais produzidas pelo iluminismo, encontra-se a crítica à intolerância religiosa e ao absolutismo político, paralelamente à crítica ao teocentrismo. Estas realidades eram consideradas os dois entraves para o pleno desenvolvimento da sociedade e do indivíduo social.

A partir das ideias iluministas, diversas revoluções foram deflagradas em diversos países, como França, Inglaterra e Estados Unidos (independência em 1776). A Revolução Francesa (1789) colocou em questionamento o antigo regime e paralelamente os diversos privilégios de que gozavam o clero e a nobreza. Não somente a profundidade e radicalidade da revolução francesa saltam à vista, mas igualmente a eliminação da servidão com o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” (Liberté, Egalité, Fraternité). Fazendo surgir, portanto, um novo Estado. Esta tríade compõe as bases dos discursos da sociedade contemporânea, compilados no atual código dos direitos humanos.

Depois de convulsionadas manifestações pelo mundo após a revolução francesa, não é possível esquecer-se da importância da Revolução Industrial (Inglaterra) para a transformação social e a reformulação do conceito ‘indivíduo social’. Se a substituição da força humana pela força das máquinas poderia significar melhorias consideráveis para o individuo operário, o que se deu na história contradiz este pensamento, porque o individuo operário neste período foi explorado excessivamente. Exploração esta que se assemelhou à escravidão. Tal revolução não apenas desencadeou o fortalecimento do capitalismo como também despertou a produção da maior crítica ao capitalismo e à construção do conceito e da consciência da luta de classes sociais, a crítica de Marx e o nascimento do marxismo.

O posterior desenvolvimento da teoria marxista culmina com o socialismo em oposição ao capitalismo. Todavia, a possibilidade de implementar o Socialismo (comunismo) trouxe consigo a oposição das frentes capitalistas, desencadeando diversas ditaduras pelo mundo, sobretudo na América Latina. Após a segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) que, por si só, se constitui num fator de profundas alterações na composição social dos países, no que se refere aos indivíduos (percentuais masculinos e femininos), o mundo se divide em dois blocos (Socialista x Capitalista) e tem sua expressão mais clara na guerra fria.

Em 1960, enquanto a América Latina se encontrava em plena ditadura militar, a aprovação, divulgação e liberação dos primeiros anticoncepcionais nos EUA, possibilitava não apenas o controle da natalidade, mas trazia consigo a reflexão e o questionamento dos valores em voga, interrogações estas geradas, sobretudo, pela juventude. Consequentemente, a liberação e a expansão dos comportamentos sexuais dos indivíduos, antes restritos aos clássicos matrimônio e monogamia, tornou-se fator característico do período.

Se durante a Segunda Guerra mundial as mulheres foram requisitadas pelos mercados de trabalho, ao final da guerra, as mulheres reivindicaram para si mais participação social e isto gerou o famoso movimento feminista (“we can do it!” – Nós podemos fazer!) que, pelas modificações sociais que gerou, pode ser considerado também uma revolução. Simone de Beauvoir (O Segundo Sexo), dentre outras, é considerada uma das intelectuais defensoras do movimento. A importância do movimento feminista não se limita às mulheres na defesa de seu lugar na sociedade, pois uma vez que outras bandeiras de lutas civis se juntaram a ele, este se transformou em movimento político. Tal movimento entrou em certa decadência na década de 1980, quando gradativamente algumas das principais reivindicações foram atendidas. O presente, no entanto, exige das mulheres e da sociedade em geral novas ações e posturas em prol da defesa de novos direitos.

Todos estes fatos históricos convidam à consciência de que não existe História sem indivíduos. O que muda nos diversos períodos históricos é a concepção que os indivíduos têm de si mesmos. Esta autoimagem que o indivíduo constrói de si e a consciência dos seus papéis na sociedade além da possibilidade das intervenções na História podem gerar transformações sociais neste determinado período.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Niilismo como refúgio e criação.

Quem Conhece Mafalda?

Notas sobre Preconceito Religioso e Sociedade